Segundo o especialista Carlos Eduardo Rosalba Padilha, o valuation e os múltiplos de mercado são atalhos inteligentes para transformar dados financeiros em decisões objetivas. Eles permitem comparar a sua empresa com pares do setor e traduzir desempenho em números que o investidor entende. A combinação entre análise por múltiplos e visão estratégica reduz vieses e aproxima o preço do valor econômico.
Assim, a avaliação deixa de ser exercício abstrato e torna-se um guia concreto para negociação, captação e planejamento. Veja tudo sobre o assunto a seguir:
Valuation e múltiplos de mercado: formando o peer group e normalizando dados
O primeiro passo é definir um conjunto de comparáveis realmente coerente. Foque em empresas com modelo de negócio similar, mesma etapa de maturidade, exposição geográfica comparável e estrutura de capital próxima. Ao selecionar o peer group, considere porte de receita, mix de produtos, ticket médio, ciclo de vendas e intensidade de capital. A partir desse recorte, os múltiplos ganham contexto: EV/EBITDA, EV/Receita, P/L e P/VP deixam de ser números soltos e passam a espelhar a realidade de um nicho específico.
Em seguida, normalize as demonstrações para que as comparações sejam justas. Ajuste eventos não recorrentes, reclassifique despesas, trate IFRS 16 e revise o capital de giro para um nível operacional. De acordo com Carlos Padilha, a normalização elimina ruídos que inflacionam ou deprimem o resultado, permitindo que os múltiplos reflitam performance recorrente. Esse rigor evita superestimar negócios com ganhos extraordinários ou penalizar empresas que passaram por reestruturações pontuais.
Escolhendo métricas com critério
Cada múltiplo conta uma história diferente. EV/EBITDA é robusto para negócios intensivos em capital e com estruturas de dívida distintas, pois considera o valor da firma. EV/Receita é útil em empresas de alto crescimento ainda sem lucro recorrente, desde que acompanhado de métricas de margem e retenção. O P/L funciona bem para negócios estáveis com lucro líquido consistente, enquanto P/VP traz visão patrimonial em setores regulados ou financeiros.

Além da escolha, avalie a consistência do intervalo de mercado. Calcule mediana e quartis, identifique outliers e investigue o motivo dos extremos: crescimento acima da média, margens superiores, risco-país, governança ou liquidez. Como elucida Carlos Eduardo Rosalba Padilha, os múltiplos devem ser aplicados com filtros qualitativos: vantagem competitiva, churn, NPS, concentração de clientes e pipeline comercial. Assim, você passa a atribuir prêmios ou descontos com base em fundamentos verificáveis.
Aplicando descontos, prêmios e testes de sensibilidade
Com o range definido, é hora de converter comparações em valor. Aplique a mediana do múltiplo ao seu indicador ajustado e, a partir daí, calibre prêmios e descontos. Margens superiores, retenção de clientes e crescimento previsível justificam prêmios; já concentração de receitas, dependência de poucos fornecedores e volatilidade operacional pedem desconto. Na visão do especialista Carlos Padilha, essa calibragem deve ser documentada, indicando evidências e métricas que sustentam cada ajuste.
Teste a sensibilidade do resultado a partir de cenários. Varie margens, taxa de crescimento, churn, ticket médio e custo de aquisição para observar o impacto no valor derivado dos múltiplos. Compare esse valor com o resultado de um DCF simplificado para checar coerência entre preço implícito e geração de caixa. Se houver grande divergência, revise premissas ou o peer group. Por fim, avalie efeitos de alavancagem e necessidades de investimento sobre a captura efetiva desse valor.
Portanto, o valuation e os múltiplos de mercado oferecem uma ponte entre desempenho operacional e valor percebido pelo mercado. Quando você define bem os comparáveis, normaliza demonstrações e escolhe métricas adequadas, os números começam a contar a história certa. Como frisa Carlos Eduardo Rosalba Padilha, decisões informadas dependem de disciplina na coleta de dados, documentação dos ajustes e testes de sensibilidade que antecipem riscos.
Autor: Kotova Belov